1as Jornadas de Música e Interpretação em tempo real
A primeira edição das Jornadas de Música e Interpretação teve lugar nos dias 27 a 29 de Setembro de 2022 no Teatro Helena Sá e Costa da ESMAE.
Apresentação
A primeira edição das Jornadas de Música e Interpretação teve lugar nos dias 27 a 29 de Setembro de 2022 no Teatro Helena Sá e Costa da ESMAE. O tema da improvisação musical — em diversos contextos, épocas e estilos — foi invocado através de uma série de oficinas participativas, comunicações e performances, sempre em ambiente de discussão e participação plenária, organizadas em torno dos modos como surge e é conduzida a improvisação no seio de várias práticas musicais.
Descrição
A improvisação ocupa um papel de relevo ao longo da história das músicas ocidentais: uma prática central no âmbito de determinados repertórios e contextos, surge também como ferramenta experimental de exploração artística, numa busca de imediatez expressiva e quiçá de autenticidade. É criatividade em tempo real, que se manifesta em som no próprio momento da sua concepção, pondo em jogo um fluxo de consciência e de movimentos corporais com interacções espontâneas constantes entre os elementos (humanos, musicais e materiais) que nela participam.
Sendo inevitavelmente informada e conduzida pelo mundo de referências de cada improvisador e pelas expectativas do repertório ou linguagem musical a que possa estar associada, é isso também que potencia a diversidade da improvisação: a riqueza do indivíduo e da sua experiência, bem como a possibilidade de abertura de novos espaços criativos no encontro entre diferentes improvisadores. Mas justamente por essa diversidade de linguagens, modos e funções — incluindo nos vários graus de formalidade ou de liberdade que lhes são subjacentes —, assim como nas diferentes relações possíveis com textos (musicais ou outros) que lhe possam servir como ponto de partida (ou de chegada, no caso da transcrição de uma sessão), a improvisação musical é um conceito múltiplo e complexo, cujas diferentes práticas admitem premissas amiúde contrastantes que importa observar, discutir e pôr em diálogo.
Neste sentido, a ESMAE, o CESEM – P. Porto, a Linha Temática Música e Interpretação do CESEM e o Xperimus organizam a primeira edição das Jornadas de Música e Interpretação, que terá lugar nos dias 27 a 29 de Setembro de 2022 no Teatro Helena Sá e Costa da ESMAE. O tema da improvisação musical — em diversos contextos, épocas e estilos — será invocado através de uma série de oficinas participativas, comunicações e performances, sempre em ambiente de discussão e participação plenária, organizadas em torno dos modos como surge e é conduzida a improvisação no seio de várias práticas musicais.
Para além das sessões temáticas, todos os participantes serão convidados a participar activamente nos ensaios da Oficina, um grupo no qual se procurará reunir as mais diversas práticas da improvisação sob um mesmo desígnio: o de preparar um concerto final que, com a participação especial da pós-gradução em dança da ESMAE, encerrará em tempo real as actividades destas primeiras Jornadas de Música e Interpretação.
Organização geral: Luís Bastos Machado (Nova / CESEM), Helena Marinho (UA / INET-md), Rui Penha (ESMAE / CESEM) & Pedro Sousa e Silva (ESMAE / CESEM)
Inscrição
Podem inscrever-se todos os membros da ESMAE, do CESEM e do Xperimus, até ao limite de participantes. A inscrição é gratuita e deverá ser feita através do formulário de inscrição.
Programa
27/09 (3ª) | 28/09 (4ª) | 29/09 (5ª) | |
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09h30 | Improvisação – do ensino às práticas experimentais org. Helena Marinho |
Música antiga (sala 209) org. Pedro Sousa e Silva |
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14h30 | Jazz org. Paulo Perfeito |
Improvisação, Composição, Interpretação org. Luís Bastos Machado |
Ensaio e Concerto Oficina org. António Augusto Aguiar e Cláudia Marisa |
18h30 | Ensaio Oficina (sala Teresa Macedo) org. António Augusto Aguiar |
Ensaio Oficina (sala Teresa Macedo) org. António Augusto Aguiar |
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21h30 | Órgão (Igreja do Marquês) org. Eugénio Amorim |
Recital Nicholas McNair e Samuel Gapp |
Nota: Este programa oferece apenas um plano geral. Para detalhes sobre as actividades de cada sessão, por favor consulte o plano detalhado abaixo.
Sessões Temáticas
Jazz
A improvisação não faz o Jazz, mas esta prática é o seu elemento mais idiossincrático e possivelmente o único que se mantém desde a génese à contemporaneidade. De uma simples abordagem heterofónica, passando pela prática do tema e variações até à liberdade aparentemente “absoluta” do Free Jazz, a improvisação no Jazz exibe três atributos que a tornam distinta da improvisação em praticamente todas as outras linguagens musicais. Em primeiro lugar é consistente, ocorrendo durante toda a performance. Em segundo lugar, uma vez que pode ser levada a cabo por todos os membros do ensemble, é generalizada. Finalmente, uma vez que o conteúdo de cada interveniente é afetado e afetador dos restantes, é também interativa. Estas características serão demonstradas com pequenas performances e excertos selecionados.
Organização: Paulo Perfeito (ESMAE / CEIS20)
Órgão
Não é consensual o momento da história da música em que se inicia a prática da improvisação ao Órgão, mas supõe-se que terá sido com a ornamentação das texturas monódicas do final do século XVI. O acompanhamento improvisado sobre um baixo cifrado era uma prática comum durante o período barroco. A improvisação continuou a ser uma característica do órgão, introduzindo o canto, ou prolongando este, quase sob a forma de uma meditação, forma tão querida de tantos organistas que se seguirão nos séc. XIX e XX/XXI, ou mesmo simplesmente preenchendo períodos de silêncio de determinadas celebrações.
Hoje em dia podemos ouvir com regularidade esta prática em concertos. Da formação dos organistas faz parte a improvisação, com tudo o que tal implica. As formas musicais serviram e servem ainda tantas vezes como suporte de uma improvisação, mas também a improvisação mais livre é constantemente posta em prática, com o que tal implica de prática e reflexão. Por fim, e não menos importante, o conhecimento profundo da registação é essencial e como cada órgão é a esse nível único...
Organização: Eugénio Amorim (ESMAE / CECH)
Improvisação – do Ensino às Práticas Experimentais
Enquanto prática espontânea e irrepetível, a improvisação resiste à análise e à reflexão sistemática, que correm mesmo o risco de se constituir como representações menores do seu objecto de estudo. No entanto, a própria história das práticas de improvisação indicia a importância da complementaridade de abordagens reflexivas e abordagens performativas. Esta sessão abordará dois aspectos específicos que se inscrevem precisamente nesta intersecção.
No contexto português de aprendizagem formal da música a nível básico, secundário e mesmo superior, o ensino de competências de improvisação é frequentemente omitido dos currículos ou menorizado. O que podemos aprender com propostas já implementadas por músicos, pesquisadores e educadores? Em que consistem estas propostas e como se poderiam difundir e desenvolver? Será esta a base para uma conversa entre Helena Caspurro (UA / INET-md), Joaquim Branco (Escola Profissional de Música de Espinho / UA) e Nicholas McNair (CESEM), moderada por Helena Marinho (UA / INET-md), sobre o estado presente do ensino da improvisação em Portugal, com base nas suas experiências e visões sobre o futuro desta área.
Estreado no ano lectivo de 2020/2021, o Ensemble ECCO (oficialmente, o Laboratório de Práticas Performativas Contemporâneas) é um colectivo promovido pela área de composição da ESMAE. Reune-se em estágio duas vezes por ano para conceber de raiz um concerto, partindo da improvisação, das práticas experimentais e da composição colectiva. Depois de várias apresentações bem sucedidas, dentro e fora da ESMAE, alguns estudantes que passaram pela experiência irão partilhá-la com os participantes das jornadas, exemplificando-a com a proposta de alguns exercícios colectivos.
Organização: Helena Marinho (UA / INET-md)
Improvisação, Composição, Interpretação
Para além da improvisação musical em si mesma como momento de criação sonora em tempo real, a prática improvisatória pode também desempenhar um papel central nos processos composicional e interpretativo, assim como no diálogo com outras artes. É acerca das fronteiras pouco claras entre improvisação, composição e interpretação que se desenrola este bloco de apresentações, constituído por três sessões: uma dedicada aos desafios inerentes à transcrição de improvisações para uma notação fixa no papel, na qual se esbatem divisões firmes entre improvisação e composição; uma outra na qual é discutido o caso especial do acompanhamento musical no cinema mudo, entre as práticas históricas e as dos nossos dias, pondo em jogo influências estéticas, composição musical e improvisação; e, por fim, uma sessão em que é explorado o lugar da improvisação na interpretação musical de obras compostas.
Organização: Luís Bastos Machado (Nova / CESEM)
Recital a 2 Pianos
Num momento de rara beleza, Nicholas McNair e Samuel Gapp apresentaram um recital improvisado a dois pianos.
Música Antiga
A improvisação de contraponto foi um importante dispositivo de aprendizagem musical durante o Renascimento. Para um intérprete do século XXI, o exercício dos esquemas de improvisação praticados então permite não apenas uma maior aproximação à linguagem musical do período, como sobretudo reenquadra a percepção da música enquanto acção e desafia o conceito de "obra".
Organização: Pedro Sousa e Silva (ESMAE / CESEM)
Oficina
A Oficina é um grupo ad hoc que reunirá todos os participantes, oriundos das mais diversas práticas da improvisação, sob um mesmo desígnio: o de preparar um concerto final que, com a participação especial da pós-gradução em dança da ESMAE, encerrará em tempo real as actividades destas primeiras Jornadas de Música e Interpretação.
Mais fotografias do ensaio geral e concerto da oficina disponíveis aqui.
Organização: António Augusto Aguiar (ESMAE / i2ADS) e Cláudia Marisa (ESMAE / Instituto de Sociologia)