Olhar, Pensar, Sentir, Escutar. Jornadas de Práticas de Investigação em Artes 2024
2ª edição do encontro anual de estudantes e investigadores em artes promovido pela ESMAE e pelo pólo do CESEM no P.Porto, que teve lugar nos dias 11 e 12 de Janeiro de 2024 no Centro de Cultura do Politécnico do Porto.
quinta-feira, 11 de Janeiro 2024
09h30 Filipe Lopes · O céu sabe a verde: música, intuição e natureza.
O que pode significar tocar música na natureza? É a partir desta questão que nasceu WeNature, um projeto que propõe desenvolver uma pesquisa teórica, artística e uma filosofia sobre a música e natureza. Pretende-se criar música que ressoe em plenitude em ambientes selvagens e um instrumento eletroacústico original que permita integrar em tempo real as especificidades desse ambiente, o que, por sua vez, tem levantado duas questões: (1) precisamos abordar a natureza como objeto ou sujeito? Enquanto que parece que muitos discursos contemporâneos se baseiam na ideia de que os seres humanos e a natureza são a mesma coisa, somos confrontados com outros discursos que apelam a uma mudança no nosso modo de vida coletivo para atenuar o impacto do humano no ambiente, separando-nos assim da natureza. (2) a natureza e a música não parecem relacionar-se de forma fundamental, embora o tema da natureza tenha uma longa tradição na música como inspiração, como cenário e, mais recentemente, como fonte de dados digitais (e.g. biossensores) e como interface (por exemplo, plantas). É à luz da prática musical na relação com o espaço, da reflexão teórica e do desenvolvimento tecnológico que WeNature tenta significar a relação da música com a natureza.
10h15 Ângela da Ponte · Caixilho de Histórias – narrativa e imagens em “Homenagem Subconsciente”
“A narrativa sempre existiu mesmo antes das pessoas lhe darem nome ou tentarem descobrir como funciona. Usamo-la de forma tão natural que, quando começamos a examiná-la, somos um pouco como o Sr. Jourdain em Le bourgois gentilhomme de Molière, que descobriu que toda a vida falava em prosa sem saber.”
H. Porter Abbott, in “The Cambridge Introduction to Narrative”
Esta comunicação expõe algumas abordagens utilizadas na criação da peça acusmática “Homenagem Subconsciente” e como alguns elementos-chave propostos por Abbott sobre narrativa influenciaram estratégias de construção formal, material temático e o seu desenvolvimento.
11h00 Coffee Break
11h30 Olívia da Silva · O estúdio fotográfico, a transformação e a preservação.
Estar contextualizado implica gerir mentalmente o tempo onde a vida decorre, nele integrando a memória do passado e a representação de múltiplos espaços físicos e emocionais.
Num projeto sobre uma comunidade piscatória, Rostos de Maré, foram recolhidas fotografias de um passado capazes de estruturar uma narrativa e de sediar o pescador no seu mundo. No âmbito do projeto, os membros desta comunidade vieram ao estúdio e aí, num mudo habitacional distinto do mundo onde viveram, as fotografias, feitas para retratar o sujeito, impuseram-se incluir, explícita ou implicitamente, o mar, o núcleo habitacional, os artefactos laborais, a ressonância de um momento, a voz silenciosa de um acontecimento.
Do ponto de vista académico ensinar a fotografar exige ensinar duas formas de preservar e transformar o passado e vários modos de ler a imagem. Reconfigurar o estúdio fotográfico enquanto contexto para o retrato exige formas diversificadas de pesquisa recorrendo a práticas digitais, mas também a processos sustentáveis: a forma como o presente recupera o passado, dentro ou fora da situação onde ocorre e a forma como, em cada fotografia, o presente pode construir o passado num contexto novo e coerente.
Assim, o projeto fotográfico laborou nas duas vidas da fotografia enquanto processo e produto: uma das vidas decorre entre a técnica e os objetivos de quem constrói, produz e manipula a fotografia, outra vida desfaz a fronteira entre explícitos e implícitos por quem, vendo, recupera, valoriza e interpreta a herança tornada num novo contexto fotográfico.
Ambas as vidas saem do tempo em que são feitas as fotografias, ou seja, ambas recorrem a uma busca de tudo o que fornece a quem fica na fotografia a possibilidade de manter ativa a forma como a vida está/esteve sediada num contexto.
12h15 Manuela Bronze · Design e Processos / Um testemunho pessoal na prática da metodologia projectual / Entendimentos, derivas e consequências das linguagens dramatúrgicas
Esta abordagem visa dar conta do testemunho da experiência pessoal, no campo da metodologia projectual, do desenvolvimento do design para cena (cenários e figurinos).
Considerada esta metodologia como uma estrutura processual, o interesse do testemunho reside em analisar e partilhar como o agenciamento das várias vertentes que encorporam questões estéticas e dramaturgicas se articula com questões técnicas e, jamais, são factores de resultado garantido.
Contudo, a intencionalidade e a intensidade vivencial dos processos (referências, contextos, derivas) são etapas de conhecimento partilhado que convergem na criação do objecto artístico. Finalmente, o mais relevante será debater o quanto as práticas e os objectos artisticos se afirmam tanto quanto se furtam à cristalização de uma tese.
13h00 Lunch Break
14h30 Cláudia Marisa · O corpo dançante na vida de todos os dias
O corpo em movimento transformou-se num estereótipo de idealização estética transversal a todos discursos artísticos. A imagem do corpo já não se pauta pelo conceito do Belo, mas, antes, pela ilusão da metamorfose e do enigma. Consequentemente, o corpo é, na atualidade, um objeto privilegiado de todo o tipo de discurso artístico, sendo alvo de discursos e meta-discursos suportados por construções teóricas diversas. A vantagem desta panóplia de modelos de reflexão é a de poder oferecer, segundo as circunstâncias, modelos alternativos de interpretação. Com efeito, as Artes do Corpo e a Performance Artística fizeram do movimento uma linguagem viva que contamina a “dança” do corpo quotidiano e a composição coreográfica do corpo cénico. Face a esta realidade resta-nos saber se as imagens do corpo quotidiano se constroem a partir da arte, e com a sua ajuda, ou se será a própria arte que se contagia das representações do corpo quotidiano. A contaminação é assumida: Os laboratórios de criação artística alimentam-se das imagens do social, sendo o corpo em movimento o elemento estruturante desta nova corporeidade estética. Nesse sentido, o corpo, no seu movimento dançado, faz ressonância no mundo, espelhando-o. Isto partindo do pressuposto que o corpo, quando organiza o seu movimento de uma forma estruturada, é pensamento, e este pensamento pode ser denominado de linguagem coreográfica. Esta comunicação pretende refletir os novos símbolos da elaboração artística que buscam as imagens do corpo social/quotidiano sustentando-se, para tal, na análise do corpo “que dança” e as suas implicações na criação artística.
15h15 Evgueni Zoudilkine · Algumas particularidades da minha obra camerística de 2018 a 2023: especificidades formais, tímbricas e harmónicas
O catálogo da minha obra camerística de 2018 a 2023 contém obras para piano e para saxofone solo, duos, trios, obras para acordeão e orquestra de câmara. Existem certas linhas estilísticas e algumas ferramentas técnicas importantes que se mantêm ou variam no espaço temporal destas obras, determinando assim o estilo e a linguagem musical.
16h00 Coffee Break
16h30 Ana Maria Liberal · Atravessar Fronteiras: circuitos musicais Luso-Galegos e Latinoamericanos na transição dos séculos XIX e XX
No final do século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX, as cidades do Porto, Vigo, Pontevedra e A Corunha mantiveram estreitos laços musicais através de uma rede de sociedades de concertos (Orpheon Portuense, Sociedades Filarmónicas de Vigo, Pontevedra e A Corunha) e de laços pessoais. Este facto permitiu o intercâmbio de repertório e de músicos, bem como a criação de uma identidade musical ibérica, que se estenderia também à América através da emigração.
Nesta comunicação pretendemos reconstruir o percurso musical do eixo atlântico, até agora não estudado pela comunidade científica, mas que significou um importante impulso para músicos e compositores de ambos os lados da fronteira, emigrantes e não emigrantes. Para o efeito, recorremos a fontes primárias de diferentes tipos (correspondência, partituras, programas, imprensa e documentação administrativa) e procedências (galega, portuguesa e americana). Entre os resultados da nossa investigação, mostramos que estes percursos foram o resultado de um projeto ideológico cultural planeado por várias instituições, que ganhará força a partir de 1908, quando o Orpheon Portuense - patrocinado pela Sociedade Filarmónica de Oviedo - se junta à "Unión de Filarmónicas" que tinha sido criada em Espanha.
17h15 Nuno Peixoto de Pinho · A Citação Musical Complexa na Música para piano de Jorge Peixinho
A utilização de música pré-existente na composição, frequentemente designada como citação ou intertextualidade, é uma característica muito presente nas práticas musicais ocidentais pós-modernistas da segunda metade do século XX. No contexto experimental português das décadas de 1970 e 1980, essa prática é relevante na obra de Jorge Peixinho (1940-1995), especialmente as chamadas citações complexas, ou seja, o uso de materiais musicais pré-existentes com uma transformação significativa. O legado de Peixinho na forma como refletiu sobre este tema é muitas vezes marcante, mas um verdadeiro labirinto quando se trata de encontrar exemplos concretos, devido aos intrincados processos de transformação a que as fontes pré-existentes eram sujeitas. Nesta apresentação, pretendo contribuir com alguns processos operativos de transformação que derivam de pequenas pistas deixadas nos próprios textos de Peixinho e verificadas na sua obra para piano solo.
sexta-feira, 12 de Janeiro 2024
09h30 Isabella Oliveira (alumna do Mestrado em Composição) · Analogia Sonora na Música Vocal Contemporânea
Este trabalho apresenta o conceito de analogia musical a partir da obra de Lawrence M. Zbikowski e traz este conceito para a análise do repertório vocal contemporâneo. A partir disto, introduz o conceito de desanalogia, trazendo também para a análise o comportamento e expressões faciais dos intérpretes, desta forma reunindo o âmbito do texto, da música e do comportamento. Em seguida, é analisada a peça Conscience (2023), a qual constitui o culminar de toda esta investigação. Composta especialmente como forma de explorar estes três âmbitos, esta peça demonstra como a música ganha mais camadas de significado por meio das analogias e desanalogias encontradas entre música, texto e comportamento.
10h00 António Malta Gomes (alumnus do Mestrado em Música - Interpretação Artística) · A influência da música tradicional portuguesa na fantasia para violino e piano Canções do Meu País de Augusto Marques Pinto (1838-1888)
Violinista, violetista, professor e compositor, Augusto Marques Pinto (1838-1888) foi uma figura de grande relevo na vida musical do Porto oitocentista. No seu espólio, depositado na Direcção Regional da Cultura do Norte, está um corpus de obras da sua autoria, que inclui a fantasia Canções do Meu País para violino e piano, baseada em temas da música tradicional portuguesa.
Na presente comunicação será abordada a influência do folclore lusitano na fantasia do compositor portuense, mostrando como Marques Pinto recorreu aos principais cancioneiros portugueses publicados na época e os utilizou na sua obra. Tratando-se de um nome practicamente desconhecido da comunidade musical actual, será efectuada uma breve abordagem biográfica do compositor.
10h30 Luís Neto Costa (alumnus do Mestrado em Composição) · Em rumo a novas técnicas com a série de harmónicos: ponto de situação
Desde outubro de 2023, Luís Neto da Costa é doutorando na Universidade Aristóteles de Salónica com o tema "Towards new techniques with the harmonic series". Esta investigação, como o título sugere, tem como objetivo desenvolver novas técnicas composicionais baseadas na série harmónica. Antes dos seus estudos de doutoramento, o compositor utilizou a série aplicando parciais comuns baseados num acorde fundamental e parciais primos. Uma dessas obras alargou o conceito aplicando harmónicos a sons de ruído instrumental utilizando eletrónica em tempo real. Mais recentemente, desenvolveu um trabalho que aplica curvas dinâmicas ao espectro sonoro e, para gerar estes materiais, desenvolveu uma ferramenta usando o software Max e a biblioteca 'bach'. Esta breve apresentação mostrará os progressos efetuados neste tema e uma reflexão sobre as possibilidades técnicas nos próximos trabalhos.
11h00 Coffee Break
11h30 Nuno Trocado da Costa · Analogia na música e metáforas organicistas
A capacidade cognitiva de recurso à analogia é central para um amplo espectro de habilidades humanas, ubíqua no pensamento quotidiano e determinante para a experiência mundanal. Na música, a analogia está fundamentalmente implicada na cognição de padrões sónicos e no mapeamento de processos gesturais-temporais; e, mais genericamente, nas múltiplas formas como pensamos, sentimos e nos movemos na e através da música, individual e colectivamente. Uma das analogias mais disseminadas na teoria e estética musicais é a do organicismo: a perspectiva de que a música é animada de uma força vital também presente na natureza, articulando os componentes de uma obra musical como uma unidade singular, em crescimento autónomo a partir de uma semente germinal, de forma análoga aos organismos vivos. A minha investigação abrange três compreensões organicistas de largo escopo, a saber: as suas motivações programáticas, estruturais e ecológicas, desde o séc. xix até ao presente. Nela procuro ainda ressonâncias com a minha prática artística.
12h15 Fátima Fonte · Música Visível – Abordagens de Composição
Esta apresentação será centrada na investigação que desenvolvi sobre música visível no âmbito do doutoramento na Guildhall School of Music and Drama (Londres). Esta investigação explora o potencial dos meus materiais musicais em diálogo com disciplinas visuais, baseando-se numa série de colaborações entre mim (compositora) e diferentes profissionais – videógrafo, designer de luz, encenador, libretista e coreógrafo.
As principais questões de investigação são: Que abordagens podem ser utilizadas por um compositor para fazer música visível com outros artistas? O processo criativo pode ser guiado por um princípio comum aos campos auditivo e visual? Que tipos de relações são desenvolvidas pela combinação desses dois campos?
Estas questões foram exploradas através do trabalho prático realizado como parte da minha investigação, à luz de conceitos como tom (Sianne Ngai 2005) e formas de vitalidade (Daniel Stern 2010), escolhidos pelo seu potencial para interligar diferentes disciplinas artísticas. Para Stern, a partilha de formas de vitalidade é o que permite a conversa e a colaboração entre artes performativas; enquanto Ngai define tom como o afeto organizador de qualquer objeto artístico. Além de estabelecer uma ligação entre a dimensão sonora e visual, estes conceitos foram utilizados para potenciar os processos criativos da música visível.
13h00 Lunch Break
14h30 Daniel Moreira · Fusão espectral e estratificação textural: reflexões sobre um modelo composicional
Nesta apresentação, abordo um aspeto muito específico da minha prática artística como compositor: o uso, em várias peças escritas a partir de 2013, de uma técnica composicional específica, em que construo uma polifonia de vozes timbricamente diferenciadas a partir de uma linha melódica base, com a qual as diferentes vozes da textura polifónica se integram espectralmente. É uma técnica simultaneamente harmónica e de orquestração, conjugando dois princípios aparentemente incompatíveis: fusão espectral e estratificação textural.
Numa primeira parte, apresento vários exemplos desta técnica, discutindo as suas implicações na estrutura, caráter e dramaturgia de diferentes peças. Numa segunda parte da apresentação, discuto a origem desta técnica, claramente influenciada por formas de orquestração por misturas (já usadas por Ravel no Bolero), pela técnica espectral de Grisey e Murail, por certas formas de contraponto antigo (em especial o organum livre medieval) e por práticas pós-modernistas de citação.
15h15 Ana Freijo · No Princípio era… o Meio / O «Rizoma» como Procedimento Heurístico
Na introdução de Mil planaltos (1980), Deleuze e Guattari apresentam a nova imagem do pensamento que irá orientar o seu trabalho: o «rizoma», a imagem que "não começa e não acaba", pois "está sempre no meio". Se bem esta secção é determinante para compreender a originalidade do procedimento filosófico adoptado, este não é, contudo, um texto original. Ele já tinha sido publicado, de forma independente, em 1976. O que nessa altura era um opúsculo em defensa de um novo tipo de escrita adquire, quatro anos mais tarde, novos sentidos e, como vemos na imagem que abre o planalto, também novas ressonâncias – a imagem em apreço é, concretamente, a quarta das Cinco Peças para Piano que Bussoti dedicou ao pianista David Tudor, em 1959. Recentemente, os estudos pós-deleuzianos têm dado especial atenção a esta imagem do pensamento, destacando-se aqui os trabalhos circunscritos à investigação artística que partiram deste procedimento como meio heurístico – tais como as publicações de Edward Campbell (2013) e de Paulo de Assis (2018). Nesta apresentação propomos, portanto, compreender qual é o lugar que ocupa o procedimento rizomático na investigação em artes, assim como perceber qual é a sua potencialidade para investigações futuras.
16h00 Coffee Break
16h30 Pedro Sousa e Silva · Para uma Antologia Gravada da Música Portuguesa do Renascimento
O Património Musical Português do Renascimento é um dos maiores tesouros nacionais que se encontra por descobrir. Mais de 90% da música que sobrevive em manuscritos e impressos nos arquivos portugueses nunca terá sido executada nos nossos dias, ainda menos gravada.
Nos últimos 10 anos tenho desenvolvido uma linha de investigação que coordena investigação musicológica com pesquisa artística que procura contribuir para uma alteração deste estado.
17h15 Henrique Portovedo · Pós-Humanismo enquanto Multidimensionalidade: Performance e Criação Musical Aumentada
As alterações de paradigma no que toca à performance musical contemporânea permitem desenvolver novos modelos de virtuosismo, bem como elevar a própria performance ao estatuto de elemento criativo. Sob uma perspectiva pós-humanista assente em princípios de cognição distribuída, hibridismo e mutação, a computação torna-se fundamental para a prática artística e experiência estética, uma vez que, desde o final do século XX se tem assistido a uma eclosão de géneros e expressões artísticas segundo dois princípios: a integração da tradição e dos meios tecnológicos; a ruptura de todos os contextos que não podem ser vistos como diretamente derivados da tecnologia digital. O meu trabalho mais recente tem passado por identificar os vários processos de expressão musical no campo na nova música, incluindo meios acústicos e electrónicos, bem como a exploração de possibilidades performativas mediadas por sistemas de computação. Novos mediums são vistos como possíveis extensões da prática instrumental e disponíveis para propósitos criativos durante os processos composicionais e performativos. Instrumentos musicais e tecnologia digital, incluindo novos Interfaces de Expressão Musical, são capazes de interagir e se influenciar mutuamente originando ambientes de Performance Aumentada.
Organização
- Dimitris Andrikopoulos (ESMAE / CESEM)
- Ana Maria Liberal (ESMAE / CESEM)